Da. Silvana Bussolino, mãe, avó e tradutora de italiano exemplar
São Paulo, 10 de janeiro de 2010.
Muito prezada Da. Silvana,
Uma única coisa eu não lhe perdoo.
A Sra. que sempre, nesta terra, foi tão comunicativa, tão falante, quase se diria hiper-falante, foi embora tão caladinha...
A gente nem ficou sabendo, sendo que, além de colegas, éramos quase vizinhos. Somente uns três ou quatro quarteirões até chegar ao agradável e aconchegante prédio da Sra., bem no começo da Av. Higienópolis, quase ao lado da Mackenzie, pertinho do centro de São Paulo!
Desconfiei que alguma coisa podia ter acontecido quando liguei antes das Festas para seu telefone, e a Sra. não atendeu. Bom, período de férias, pensei. Afinal, ninguém é de ferro. Mas tampouco eu recebi respostas por e-mail, que a Sra. costumava responder no dia seguinte. Foi aí que meu "pensamento positivo" começou a fraquejar, desconfiando que alguma coisa podia ter acontecido.
Até que me armei de coragem e decidi dar um pulinho até seu prédio.
Poucos na lista, talvez, devem ter conhecido a Sra.
A Sra. não era nem listeira, nem blogueira, nem facebookeira, nem twitteira, nem msneira, nem diggeira, nem blackberreira, nem ipodeira, mas era, literalmente, muuuito pé-no-chão. Várias vezes me cruzei na rua com a Sra., sempre com passo rápido e seguro, indo até os escritórios dos clientes, pegando os serviços, traduzindo e voltando para deixá-los.
Pé-no-chão, pássaro-em-mão pareciam ser seus lemas...
Afinal, não estamos voltando à era das "trilhas"? A Sra. era uma "trilheira" 1.000%!
E essa "trilha", que funcionou para a Sra., continua a funcionar para muitos, em meio a todo tipo de super-auto-estradas de hiper-info-(des)informação. O super-blue-black-yellow-white-berry ajuda, sem dúvida, e muito, a muitos; mas não é condição necessária e indispensável para ser uma boa tradutora.
A Sra. foi um exemplo vivo disso, e, aliás, não era somente boa tradutora. Era uma excelente tradutora de italiano, sua língua nativa, de mão cheia! Com uma segurança e precisão de décadas de profissão!
E dizer só excelente tradutora, é dizer pouco.
Tive oportunidade de fazer com a Sra. duas reuniões para analisar uns processos-calhamaços que deviam ser traduzidos para o Consulado Italiano. No total, devem ter sido duas horas de reunião.
Mas o que eu aprendi vendo e ouvindo a Da. Silvana, pegando cada documento e analisando os aspectos legais, com um raio-x intelectual muitíssimo mais potente do que aquela grande lupa que a Sra. costumava ter sempre ao alcance da mão.
Nessas duas "aulas" aprendi com a Sra. a descascar muitos abacaxis jurídicos e processuais, em meio daqueles calhamaços, a separar o joio do trigo, e a distinguir os famosos "objetos" e "pés"...
Mas lembro ter percebido também, nessas duas aulas magistrais, uma outra louvável preocupação, além da estritamente jurídica, ou relacionada estritamente com as técnicas de tradução: a preocupação ética de proteger as costas do tradutor juramentado que, muitas vezes, em meio a mil serviços, assina uma tradução tendo que confiar em seus tradutores e revisores, como, aliás, acontece em outras profissões.
Bom, vou confessar-lhe, as aulas foram tão boas que, em algumas coisinhas, passei de aluno a concorrente. Fazer o que, Da. Silvana.
Assim como existe o "Pulo do Gato", eu, de refletir em suas observações, e de analisar suas excelentes traduções, acabei aprendendo o "Pulo de Da. Silvana"... Fazer o que.
Eu não teria sabido dar um palpite sobre a idade da Sra., até que Da. Adalva, sua vizinha, amiga e confidente, revelou tão importante segredo. Não se revelam segredos em público. Por isso, para os curiosos, digo simplesmente que a Sra. era... novinha!
Não quero cansar ou enjoar a Sra., já vou terminando.
Uma palavra sobre os seus tesouros: o filho Conrado, a filha Loredana, a netinha, o invariável café da tarde com Da. Adalva e... o jogo de baralho à noitinha com as amiguinhas italianas do bairro.
O café e o jogo de baralho eram "sagrados".
O cliente podia espernear, chorar, implorar, suplicar... mas não adiantava. Eram o "sagrado" café e o "sagrado" jogo de baralho, misturados e condimentados, é claro, e não podia deixar de ser, com bate-papos sobre as últimas novidades do prédio, dos vizinhos, das vizinhas etc.
Quanto eu teria gostado de ouvir uma conversa dessas. E, quem sabe, transformar isso numa "Crônica do prédio e do bairro Higienópolis". Ou, talvez, fazer um Blogue!
"O Blogue de Da. Silvana e as Amiguinhas - As mais recentes e quentes novidades do prédio e do bairro, minuto a minuto". De uma vez, um Twitter!
A Sra. às vezes era um pouquinho rabuginha, não é? Eu sei, a Sra. poderá alegar, com tanta razão, que eu também sou um poucão rabujão. Afinal, quem não amanhece às vezes, de chinelos trocados?
Mas, no fundo, acho que, no caso da Sra., era simplesmente uma sábia estratégia anti-"clientelice-chatice", ou, se quiser, um instinto de defesa contra a "síndrome do tradutor-capacho" ou da "tradutora-capacha".
A Sra., "capacha" de algum cliente? Jamais! A Sra. não tinha nada, nadinha, dessa síndrome. Noooosssa! Com a Sra. não se brincava. Com o prazo, gostou, gostou; não gostou, não gostou. Com o preço, a mesma coisa.
Cá entre nós, uma dose, ainda que homeopática, de "rabugensis sativa", nunca está de mais.
Vou chegando ao fim, com mais uma lembrancinha saudosa. Talvez a última vez que vi a Sra. foi, há mais de um ano, na Pizzaria San Pietro, um sábado à noite. A Sra., com sua turma, e eu, com a minha. Batemos um papinho rapidinho.
Não quero amolar mais a Sra., nem a seus e meus colegas.
Ciao, da. Silvana. Minhas homenagens. Uma prece pela sua alma. Que em paz descanse!
Atenciosamente,
Gonzalo G. Acquistapace
Nota:
A tradutora Silvana Bussolino, italiana, teve um derrame cerebral num domingo de fevereiro de 2009, e foi levada logo à Santa Casa de Misericórdia, pertinho do apartamento dela. Foi operada, mas não logrou recuperar-se. Nunca mais acordou. Passou vários meses no Hospital, como se estivesse dormindo.
Faleceu em 02 de agosto de 2009. Em setembro de 2009 ia cumprir 69 anos. Fiquei sabendo do falecimento dela antes das Festas de 2009. Só agora tive possibilidade de alinhavar algumas impressões, e enviá-las aos caros colegas da Lista, a título de homenagem, à saudosa Da. Silvana.
E-mail de Da. Dalva Zeitune, sua vizinha, melhor amiga e confidente: dalba.zeitune@itelefonica.com.br
Aos colegas que desejarem enviar uma mensagem, Da. Dalva entregará cópia aos filhos e à netinha de Da. Silvana. Podem também escrever, caso desejarem, com cópia a
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