Gustavo
Franceschini
Do UOL, em Teresópolis
06h00
Em um
ambiente recheado de estrelas,
com o glamour de uma Copa do Mundo batendo à
porta, uma pecinha da engrenagem pode fazer diferença. Você tem ideia da importância
de um tradutor para a rotina da seleção brasileira? Muita. Responsável
pela comunicação entre a imprensa
internacional e os astros verde-amarelos, Leonardo de
Lima tem levado uma vida
difícil desde o fim de maio,
quando começou a trabalhar na Granja Comary acompanhando as entrevistas coletivas
dos comandados de Felipão.
Leonardo é professor de inglês de uma escola
em Teresópolis, base da seleção
brasileira. Todos os dias ele fica posicionado em uma cabine pequena,
no fundo da tenda onde os jogadores falam com a imprensa. Do ambiente
fechado, ouve tudo que os
comandados de Felipão têm a
dizer e traduz para inglês, a língua que garante a comunicação das dezenas de jornalistas estrangeiros que não falam português.
"Acho que está
funcionando, mas é difícil. Tem de acompanhar tudo que acontece.
Eles falam bem rápido e às vezes é difícil de
entender", disse Leonardo, em entrevista para o UOL
Esporte.
O sistema de tradução simultânea é uma iniciativa da
CBF, que tem a escola de inglês English Town como
patrocinadora. A empresa exibe sua
marca na cabine de tradução
e nos fones de ouvidos que acompanham
o aparelho de tradução. Só que Leonardo é professor de inglês em uma unidade
da Fisk, concorrente da parceira da confederação.
A agência que cuida da estrutura oferecida aos jornalistas na Granja Comary, incluindo o sistema de tradução simultânea, explica que
a English Town foi
consultada a respeito. Profissionais
da empresa estiveram na Granja Comary
antes do período de preparação, conversaram
com Leonardo e aprovaram a contratação. A patrocinadora da CBF, diga-se, oferece cursos de línguas à
distancia, e não tem uma base em Teresópolis, o que dificultaria o fornecimento de um tradutor próprio.
A função é imprescindível
em uma dinâmica como a da seleção brasileira, que Copa após
Copa atrai uma parcela
significativa da atenção da imprensa
mundial pela sua importância
e seu histórico no torneio.
Em 2014, em casa, o fenômeno é ainda
maior. São quase dois mil profissionais de imprensa credenciados para acompanhar a preparação da seleção, e a estimativa é de que cerca de 20% seja de estrangeiros.
"Eu tive de aprender o vocabulário específico. Algumas
termos que os jornalistas ingleses usam para as posições, por exemplo, são mais
complicados. Os jogadores também
falam algumas expressões que você tem de ver antes, se preparar", disse
Leonardo.
A precisão é fundamental. Um termo errado pode ser a diferença
entre uma declaração
protocolar e uma polêmica quando um jogador
está respondendo sobre algum
tema espinhoso. No caminho
inverso, um vacilo na tradução
pode fazer a diferença
entre uma pergunta
protocolar ou uma outra mais capciosa, que deixa o entrevista em uma saia justa. Foi a última situação que salvou Daniel Alves
de um momento embaraçoso em
frente aos microfones.
Na semana passada, um
jornalista sueco pediu a palavra e perguntou ao lateral, em inglês, como seria
jogar ao lado de Ibrahimovic no PSG, dando como certa
uma transferência de Daniel
Alves para o clube francês.
O problema é que o aparelho de som
que transmite a tradução não
funcionou e a missão de
"decodificar" a questão sobrou
para um repórter da TV Globo, que perguntou
"como seria" voltar a atuar
com o atacante sueco, ex-parceiro
do brasileiro no Barcelona.
Daniel escapou da "pegadinha" e ficou sem responder a pergunta sobre o seu futuro por causa da imprecisão
da tradução. O episódio mudou a rotina de Leonardo, que não teve participação
na falha, transmitida ao
vivo em cadeia nacional.
Na hora em que a pergunta foi feita, o aparelho
de tradução que estava com Daniel Alves estava ligado no
canal errado, que traduzia do português
para o inglês. O jogador do
Barcelona, então, só pôde ouvir a questão
na língua estrangeira. Depois desse dia,
a CBF e a agência responsável
pela montagem da estrutura
para a imprensa decidiram
que todo o áudio ficaria em
um único canal.
"Fica mais
fácil para o tradutor. Quando
alguém pergunta em inglês ele está traduzindo para o
português, e vice-versa. O resultado é que quem está com o fone no ouvido vai ouvir tudo",
disse Tainã Sant'Angelo, operador de áudio
que trabalha com Leonardo.
Só que a alteração não
impediu novos problemas. No
último sábado, por exemplo, o zagueiro
Henrique não conseguiu ouvir o que se falava no aparelho de tradução. O motivo,
segundo a CBF, foi uma interferência causada pelo celular do jogador,
que estava ligado.
Os problemas não reduzem a importância
do sistema. Para jornalistas estrangeiros,
a tradução simultânea é a garantia de que o trabalho diário pode ser feito sem problemas. Quatro repórteres ouvidos pelo UOL
Esporte no último sábado avalizaram o modelo
que vem sendo adotado na Granja Comary.
"Já vieram
elogiar. Acho que para eles é importante, senão não entenderiam nada', disse Leonardo.
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/06/15/voce-tem-ideia-de-como-e-a-vida-do-tradutor-da-selecao-brasileira.htm
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